Devotar-se é se anelar, se engajar em um projeto. São
Francisco se empenha antes de tudo em Amar muito. Tal Amor devoto, nasce da ciência
de saber-se Amado, e, uma vez que foi interpelado por este tão grande
amabilíssimo Senhor, todo o esforço nosso é tardio, chega depois. Mas saber-se
“atrasado” em Amar o Senhor é o que nos move a Ele. Tal Amor assume a tarefa de
ser cada vez mais profundo e bem orientado.
O Amor-resposta é a mais bela e pura tentativa de fazer Deus
Amado como nos Ama. Esta tarefa nos põe em jogo, juntamente com todas as nossas
forças, toda a nossa vontade e todo o nosso coração. No Shemah Israel está a forma legal do “Amarás o Senhor teu Deus ...”
encerrado no primeiro mandamento.
Orientado pelo
mandato interior de quem se sabe amado, todo empenho existencial (devoção) tem,
eu disse acima, o desejo de Amar como se é Amado, mas para tal fim não
possuímos outro Amor que o próprio recebido.
Neste ponto o homem devoto descobre que um objetivo tão
sublime, e até impossível para muitos, e uma blasfêmia para outros; Amar como
Deus Ama!?
Como assim?
Se pensarmos em quantidade, sou obrigado a concordar. Ele
nos Ama infinitamente, incomensuravelmente mais e sempre. O devoto, no entanto,
se propõe a Amar não na mesma medida, mas do mesmo modo.
O modo como Deus Ama nos é possível pela própria força do
Amor com que somos amados, pois o amaremos até onde é possível uma criatura
Amar ao Senhor. Assim o devoto Ama o Senhor pelo toque do Amor que recebeu. E
são Francisco não só Ama a origem deste Amor, ama antes o Amor Daquele que nos
Amou. Sim, ele Ama o Amor, este que precisa ser muito amado.
Porque este Amor é muito grande e para São Francisco de
Assis não existe outra resposta que muito ama-lo, eis sua devoção! Ela lhe dá
forças para corresponder, ela é o motor, ela é o impulso para procurar sempre
ocasiões de fazer-se Amado e de Amar.
Quem é o Amor que São Francisco tanto Ama?
São Francisco Amava em cada situação o Amor Daquele que nos
Amou. Cada situação amou a partir do Senhor, de seu Amor Encarnado, eis sua devoção,
seu compromisso. Este santo descobriu o caminho do Amor ao outro, amá-lo a
partir do Amor, a partir de seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor.
O que Amo no outro é o Cristo Jesus que está nele, sua
imagem. O que Amo na Criação são sua qualidades, sua beleza, sua harmonia, sua
grandeza...
O que sempre amamos é o AMOR.
O amor é algo que pessoalmente me move, e falar dele para mim é sempre um desafio que gosto de encarar.
ResponderExcluirEsse texto é muito bom e traz uma reflexão importante e passível de ser aprofundada por outros olhares. O olhar do devoto apresentada revela um motivo para amar. O Humano é um ser que aprende muitas coisas. Pouquíssimas coisas são inatas e ainda essas precisam de treinos e espelhos para se aperfeiçoar. No amor não é diferente. É preciso provar do amor para amar. É preciso sentir-se amado para amar, e nesse sentido o amor do devoto se explica pelo amor que recebe.
Não sei ao certo se Francisco retribuiu o que recebeu ou se aprendeu algo tão bom que sentiu necessidade de transmitir a tudo. Não domino bem a ordem ou a lógica do amor. Ainda mais o amor de Deus que é tão sublime, constante, pleno. Mas permitir-se ser amado é o que me parece ser o pontapé inicial do amor.