Às vezes o tempo parece paredes que se aproximam de um
quarto, de um céu, de uma cela gélida. Estreitando não só as dimensões, como o
comprimento, largura, altura, mas o que estreita, mais fortemente, é a sensação
de que a caminhada está chegando ao fim, ou ao menos o fim desta etapa.
Termina, me parece,não só por ter sido concluída, todavia,
termina pela sensação de incapacidade que cresce e cresce.
O tempo não ajuda e corre aumentando a agonia.
Nada ouvimos,
nada vemos,
nem sentimos,
o peito
aperta,
o ar
desaparece,
tudo se torna
nada,
vazio,
TUDO É AUSÊNCIA.
Vagamos fora de nós, tudo é eco, embaçado, insensível,
pouco, rarefeito...
Tudo é distância, tudo
está consumado!
Abraço o pouco, o nada que tenho, a ausência, a distância,
na esperança de ser encontrado. Este abraço é tudo que preciso e que tenho,
então, como um náufrago que se agarra aquele pedaço de madeira, assim eu faço.
Este pedaço de madeira é tudo que ele, o náufrago, possui, é
seu barco, boia. Aquele pedaço se deixa abraçar, reclinar a cabeça cansada. O
náufrago o beija no momento de seu resgate, compartilha sua alegria com tudo o
que tem. No abraço, agora apertado, carinhoso pela proximidade do encontro, o
sente vivo, salvador, e, assim, são quase um.
Depois de resgatado jamais abandona aquele que compartilhou
de sua vida, de seu abraço, de seu beijo, de sua finitude infinita, porque a
acolhida de seu abraço naquele momento deixou no náufrago uma marca indelével.
Agora, tudo o que faz traz os momentos vividos, únicos, com
aquele pedaço de madeira naquele mar, que pelo resgate é seu mar.
Descobre, que todo abraço renova e torna atual àquele abraço
à vida, à esperança, ao Amor.
Como Cristo que abraçou o seu madeiro, este “náufrago” salva
o mundo, porque ama a vida, a esperança, ama o Amor.
Assim também comigo, nesta ausência, nesta distância, neste
vazio está meu madeiro, minha glória, meu tudo.
O tempo continua a correr só que a cada instante é cheio,
pleno, tudo. Em cada instante está todo o vazio, todo o nada, todo o mar, todo
o madeiro, todo o encontro, toda a cruz, todo o Amor.
O que vou encontrar neste abraço no tempo que corre e me
aperta?
O que encontrarei nesta distância, nesta ausência? Não sei.
Antes, anseio continuar abraçado ao madeiro da minha
salvação, me gloriando, criando e cultivando as marcas gloriosas da busca pela
vida, pela esperança, pelo Amor.
O náufrago após o encontro conserva em sua casa o madeiro em
um quadro em frente a cama, pois ao abrir os olhos é o que primeiro enxerga
para sempre manter vivo o abraço e suas marcas.
Jesus ao abraçar o madeiro da Cruz, e, mesmo depois da
Ressurreição conservou as marcas deste abraço e o mantém vivo e pulsante na
Santíssima Eucaristia.
Enquanto a mim, ainda busco a perseverança no abraço...e
você??
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