PASSOS

NO

SILÊNCIO

Senhor fazei de mim um instrumento de vossa paz.

.......

o náufrago, o madeiro e o ABRAÇO.


Às vezes o tempo parece paredes que se aproximam de um quarto, de um céu, de uma cela gélida. Estreitando não só as dimensões, como o comprimento, largura, altura, mas o que estreita, mais fortemente, é a sensação de que a caminhada está chegando ao fim, ou ao menos o fim desta etapa.

Termina, me parece,não só por ter sido concluída, todavia, termina pela sensação de incapacidade que cresce e cresce.

O tempo não ajuda e corre aumentando a agonia.
Nada ouvimos,
nada vemos,
nem sentimos,
o peito aperta,
o ar desaparece,
tudo se torna nada,
vazio,
TUDO É AUSÊNCIA.

Vagamos fora de nós, tudo é eco, embaçado, insensível, pouco, rarefeito...

Tudo é distância, tudo está consumado!

Abraço o pouco, o nada que tenho, a ausência, a distância, na esperança de ser encontrado. Este abraço é tudo que preciso e que tenho, então, como um náufrago que se agarra aquele pedaço de madeira, assim eu faço.

Este pedaço de madeira é tudo que ele, o náufrago, possui, é seu barco, boia. Aquele pedaço se deixa abraçar, reclinar a cabeça cansada. O náufrago o beija no momento de seu resgate, compartilha sua alegria com tudo o que tem. No abraço, agora apertado, carinhoso pela proximidade do encontro, o sente vivo, salvador, e, assim, são quase um.

Depois de resgatado jamais abandona aquele que compartilhou de sua vida, de seu abraço, de seu beijo, de sua finitude infinita, porque a acolhida de seu abraço naquele momento deixou no náufrago uma marca indelével.

Agora, tudo o que faz traz os momentos vividos, únicos, com aquele pedaço de madeira naquele mar, que pelo resgate é seu mar.
Descobre, que todo abraço renova e torna atual àquele abraço à vida, à esperança, ao Amor.

Como Cristo que abraçou o seu madeiro, este “náufrago” salva o mundo, porque ama a vida, a esperança, ama o Amor.

Assim também comigo, nesta ausência, nesta distância, neste vazio está meu madeiro, minha glória, meu tudo.

O tempo continua a correr só que a cada instante é cheio, pleno, tudo. Em cada instante está todo o vazio, todo o nada, todo o mar, todo o madeiro, todo o encontro, toda a cruz, todo o Amor.

O que vou encontrar neste abraço no tempo que corre e me aperta? 

O que encontrarei nesta distância, nesta ausência? Não sei.

Antes, anseio continuar abraçado ao madeiro da minha salvação, me gloriando, criando e cultivando as marcas gloriosas da busca pela vida, pela esperança, pelo Amor.

O náufrago após o encontro conserva em sua casa o madeiro em um quadro em frente a cama, pois ao abrir os olhos é o que primeiro enxerga para sempre manter vivo o abraço e suas marcas.

Jesus ao abraçar o madeiro da Cruz, e, mesmo depois da Ressurreição conservou as marcas deste abraço e o mantém vivo e pulsante na Santíssima Eucaristia.


Enquanto a mim, ainda busco a perseverança no abraço...e você??

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